SAUDADE

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Clarice Lispector

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sono e sonhos.......

CAIR NOS BRAÇOS DE MORFEU


A mitologia grega ensina que Hipnos, filho de Erebo e da Noite, era o deus do sono, e errava docemente sobre a terra e o mar distribuindo a todos um repouso benéfico e reparador. Os estudiosos da mitologia acreditam que seu palácio ficava numa caverna perto da região onde habitava um povo descrito por Homero, em sua Ilíada, como vivendo numa escuridão perpétua, e considerado por Heródoto, o "pai da História", como os primeiros ocupantes da Rússia Meridional, de onde foram repelidos através do Cáucaso até a Ásia Menor. Ainda segundo alguns estudiosos, "junto à entrada da caverna crescem abundantemente papoulas e outras plantas, de cujo suco a Noite extrai o sono, que espalha sobre a terra escurecida". Entre os filhos de Hipnos estava Morfeu, que tinha a faculdade de revestir de sonhos a imaginação dos homens adormecidos.

O sono, ou adormecimento, é o relaxamento natural dos sentidos. Ele tem uma função importante na mitologia e no folclore dos mais diferentes povos, e a preocupação com o que sucede à pessoa que dorme aparece muito cedo na evolução de cada um desses agrupamentos humanos, dirigindo-se essa preocupação quer para o fenômeno do sonho, quer para o sono, em geral, em que os povos primitivos e mesmo os da antiguidade viam não apenas uma atividade fisiológica, mas uma das manifestações do sobrenatural na vida cotidiana. Por isso Hipnos era o deus do sono, e Morfeu o dos sonhos.

Entre a farta variedade de drogas de que o homem vem se servindo há milhares de anos, o ópio é uma das mais antigas de que se tem notícia, pois no quarto milênio antes de Cristo os sumérios já o conheciam, bem como os gregos, os egípcios e os árabes. Extraído de diversas espécies de papoula, o ópio contém vinte alcalóides diferentes, sendo a morfina um dos principais. Isolada em 1805, ela recebeu inicialmente o nome de morphium, em alusão a Morfeu, mas depois essa designação foi alterada para morfina, acompanhando a terminação comum a outros produtos tóxicos, como a estricnina e a cocaína.

Em razão disso, quando a expressão popular "cair nos braços de Morfeu" pretende indicar que alguém vai dormir o sono dos justos, comete um engano mitológico, porque a lenda explica que o responsável por esse estado de repouso é o deus Hipnos, de cujo nome, inclusive, surgiu o prefixo hipno, com o significado de sono, como em hipnose e hipnótico.


FERNANDO KITZINGER DANNEMANN
Publicado no Recanto das Letras em 18/12/2005
Código do texto: T87615

Nenhum comentário:

Postar um comentário